Como toda grande subespecialidade dentro da Patologia, os casos de Ginecopatologia geralmente são analisados por Patologistas gerais. Quando estes têm dúvidas ou não se sentem confortáveis em dar continuidade ao caso, ele segue para um Patologista referência nesta área.

A Ginecopatologia envolve doenças de vários órgãos distintos (ovário, tubas uterinas, corpo uterino, colo uterino, vagina, vulva, placenta e peritônio) e a diversidade desses problemas de saúde é enorme, principalmente, no que diz respeito às neoplasias.

Considerando apenas o ovário, como exemplo, há vários tipos de neoplasias, com uma diversidade enorme de causas, e com diferentes origens histológicas, como as neoplasias de origem epitelial, mesenquimal, estromal-cordão sexual, germinativa, além das frequentes doenças metastáticas para esse órgão. Isso torna a subespecialidade extremamente complexa e diversificada, fazendo com que o estudo e as atualizações sejam constantes.

Quando nós voltamos ao trato ginecológico baixo (colo uterino, vagina e vulva), nos deparamos com neoplasias causadas, predominantemente, pelo vírus do papiloma humano, mais conhecido como HPV.

É importante termos a consciência de que um teste molecular positivo para HPV de alto risco não significa que a paciente tenha câncer, ou mesmo lesões precursoras dele. A incidência de infecção por HPV é elevadíssima, sobretudo em pacientes mais jovens. Portanto, um teste de HPV positivo implica, necessariamente, na realização de um teste reflexo, que pode ser a Citologia ou a Colposcopia, a depender do genótipo do HPV. Lembrando que, a maioria das infecções por HPV irá desaparecer, espontaneamente, sem causar qualquer doença mais grave.

A literatura mostra que 70% dos cânceres de colo uterino são causados pelos genótipos 16 e 18.  Considerando-se que estes genótipos são os de maior risco, a positividade de um teste molecular para um deles indica uma consulta ginecológica e um exame colposcópico. Já para os demais genótipos de alto risco, a orientação é de que o teste reflexo seja a Citologia, de preferência realizada no mesmo material cujo resultado do teste de HPV tenha sido positivo. Já um teste negativo para HPV, faz com que essa paciente só precise realizar novo teste após 5 anos.

As diretrizes nacionais atuais do rastreio de câncer de colo uterino ainda datam de sua última edição, publicada em 2016. Portanto, segundo elas, o rastreio primário do câncer de colo de útero ainda pode ser feito por meio da Citologia, convencional ou em meio líquido (Portaria de 2019).

No entanto, devido à recomendação publicada nos “guidelines” da OMS, em 2021, que orienta que o rastreamento do câncer de colo de útero deve ser realizado, primariamente, pelo teste molecular para DNA de HPV, em substituição à citologia e à colposcopia, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) apoia e recomenda essa mudança em seus guias.

Devido a esse posicionamento da OMS, abriu-se a Câmara Técnica Assessora para o enfrentamento do câncer de colo do útero no âmbito da Atenção Primária à Saúde, em dezembro de 2021. Nessa câmara técnica, houve a seguinte deliberação:

Entrega: Solicitação de Incorporação do teste molecular para a detecção do HPV

Objetivo: Avaliar a custo-efetividade do teste molecular para detecção do HPV como método de rastreamento do câncer do colo do útero no âmbito do SUS, considerando os estudos publicados e as últimas recomendações da OMS.

Status: A solicitação de incorporação do teste HPV encontra-se em análise pela Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) e espera-se que a primeira reunião de avaliação ocorra ainda este ano (2022).

Levando-se em consideração que já há uma movimentação em relação ao SUS introduzir o teste molecular de HPV em suas diretrizes, é possível que não demore para se tornar uma realidade. Em termos da saúde privada, já é um fato apoiado pela FEBRASGO. Porém, ainda há a necessidade de tornar o assunto amplamente conhecido pelas especialidades médicas envolvidas.

Dra. Graziela de Macêdo Matsushita

Médica Patologista – CRM-SP: 91361

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Publicado por DB Diagnósticos